ARQUITETURA ARABE ISLAMICA - OS ELEMENTOS DAS MESQUITAS - P1



Introdução:


As restrições religiosas à representação de figuras humanas e de animais no Islam impediu a evolução de técnicas como a pintura e a escultura e acabou por transformar a arquitetura na modalidade artística mais desenvolvido na cultura islâmica.

A arquitetura islâmica, em virtude da forte religiosidade, encontra sua melhor expressão na mesquita, edifício destinado às orações comunitárias.

A arquitetura islâmica agrupa o conjunto de estilos seculares e religiosos aplicados no desenho e construção de edifícios e estruturas, desde a época de fundação do Islão, até os dias atuais.

  • Os tipos principais de construções da Arquitetura Islâmica são: as Mesquitas, as Tumbas, os Palácios, as Madrassas (escolas corânicas) e os Fortes. De menor importância são os Banhos públicos, as Fontes, e a arquitetura civil.
  • A Coluna, o Arco e a Cúpula são características marcantes dessa arquitetura, na medida em que as três juntas lhe dão beleza e originalidade.

PARTE I

Elementos de estilo islâmico - MESQUITAS


  • Minaretes ou torres (almenara), lugar onde é feito o chamado para as orações pelo muezin (ele faz cinco vezes ao dia o adhan - chamado para a oração - avisando avizinhança que chegou a hora de rezar).
  • Mihrab - Nicho ou marcador qabla usado para indicar a direção da oração geralmente em uma mesquita. Indica a direção de Meka.
  • Cúpulas ou dome de pedra e tijolos, cobrem as mesquitas.
  • Os iwans que são salões com abóbadas abertas para apenas um lado através de uma grande arcada.
  • Uso de numerosas colunas esguias, os arcos em ferradura e cúpulas, decoradas por mosaicos e arabescos.
  • O uso de formas geométricas e arte repetitiva (arabesco).
  • O uso de muqarnas imitação de estalactites decorativas.
  • Central de fontes de água utilizadas para as abluções (uma vez usada como área de wudu para os muçulmanos).
  • Pátio central.
  • A ornamentação que recobre todas as superfícies contribui para esconder a estrutura do edifício sem nunca criar um ponto central que chame a atenção.
  • O uso da caligrafia islâmica decorativos, em vez de fotos que foram haram (proibido) na arquitetura mesquita. Note que na arquitetura secular, a representação humana e animal estava presente.
  • Foco tanto no espaço interior de um edifício e do exterior.

Quais eram os significados dos arcos e dos octógonos nessa arquitetura?

O octagrama é um símbolo de plenitude e reconstrução. A estrela de oito pontas no islamismo faz referência aos quatro profetas principais, Abraão, Moisés, Jesus e Muhammad, e aos quatro anjos maiores que sustentam o trono de Deus, Miguel, Rafael, Gabriel e Uriel. Representa o entroncamento entre o quadrado e a curvatura da esfera.

A figura fundamental na arte islâmica é o círculo, pois, de acordo com o pensamento islâmico, os polígonos podem ser construídos a partir do círculo e estão contidos dentro dele. Assim, o círculo pode ser pensado como subjacente a cada padrão geométrico. Uma vez que não tem começo nem fim, é um símbolo de eternidade, unidade e integridade. Também uma expressão de justiça, pois representa a igualdade em todas as direções. O círculo é o polígono da base, do qual emana a estrela, a forma em que a arte islâmica se baseia.


História


Em 630, quando o exército do profeta Mohammad (a paz seja sobre ele) reconquistou a cidade de Meca, o santuário da Caaba foi reconstruído e dedicado ao Islão; a obra foi executada por um náufrago carpinteiro etíope, em seu estilo nativo, e concluída antes da morte de Maomé em 632, vindo a tornar-se um dos primeiros trabalhos de grande envergadura da arquitetura islâmica.
As paredes foram decoradas com pinturas de Jesus, Maria, Abraão, profetas e anjos. A partir do Século VIII, a doutrina islâmica, baseada no Hadiz, proibiu o uso de imagens em sua arquitetura, sobretudo as de humanos e de animais.
No Século VII, as forças muçulmanas conquistaram extensos territórios. Ao se estabelecerem em uma região, sua primeira preocupação era encontrar um lugar para erguer uma mesquita. O desenho simples, baseado na casa do profeta Maomé, tornou-se o padrão de construção dessas novas mesquitas ou de adaptação de edifícios já construídos como igrejas.

Influências e estilos tradicionais


O Domo da Rocha é um exemplo chave da arquitetura islâmica. Um estilo arquitetônico islâmico facilmente reconhecivel se desenvolveu pouco depois da morte do profeta Maomé, formado a partir de modelos romanos, egipcios, persas e bizantinos. A rapidez de seu surgimento teve como marco o ano 691, com a finalização do Domo da Rocha (Qubbat al-Sakhrah), em Jerusalém, que apresenta traços abobadados, um domo circular, e o uso de estilizados e repetitivos padrões decorativos (arabesco).


A Basílica de Santa Sofia ou Hagia Sophia (Santa Sabedoria), em Istambul, também influenciou a arte islâmica, ao agregar elementos da arquitetura bizantina. Quando os otomanos capturaram a cidade dos bizantinos, converteram-na de basílica em mesquita, sendo atualmente um museu. Essa igreja também serviu de modelo para muitas outras mesquitas otomanas, como a Mesquita Sehzade e a Mesquita de Süleymaniye.



Arquitetura persa

Uma das primeiras civilizações com a qual o Islã entrou em contato foi com a persa, da qual os islâmicos absorveram abundantes elementos.
Muitas cidade, como Bagdá, por exemplo, foram erguidas junto a construções precedentes, como Firouzabad, na Pérsia. É sabido que dentre as pessoas contratadas por Al-Mansur para desenhar os planos da cidade, encontravam-se Naubakht, um antigo persa seguidor de Zoroastro, e Mashallah ( ماشاءال ), um antigo judeu de Khorasán, Irã.



Arquitetura andaluza ou mourisca

A construção da grande Mesquita de Córdoba, começada no ano785, marcou o começo da arquitetura islâmica na península Ibérica e no norte da África. Essa mesquita se destaca por seus arcos interiores em forma de ferradura.
A arquitetura andaluz atingiu seu clímax com a construção da Alhambra, o magnífico palácio-fortaleza de Granada, com seus espaços abertos e afrescos em roxo, azul e dourado. As paredes são decoradas com estilizados motivos de folhagens, inscrições em árabe, e desenhos com arabescos nas paredes azulejadas.
Pouco antes de concluída a reconquista cristã, a influência islâmica teve seu derradeiro impacto na arquitetura da Espanha, através do estilo mudéjar, mesclando elementos cristãos e muçulmanos.

Arquitetura otomana

A arquitetura do Império Otomano caracteríza-se por suas grandes mesquitas, baseadas nos modelos de Sinán, como a Mesquita de Süleymaniye, de meados do Século XVI.
Durante cerca de 500 anos, exemplos da arquitetura bizantina serviram de modelos para a maioria das mesquitas otomanas, como a Mesquita Sehzade e a Mesquita Rüstem Pash.
Os otomanos desenvolveram uma arquitetura de alto nível, nas terras que dominaram.
Dominaram a técnica de construir extensos espaços internos confinados por abóbadas, e de alcançar a harmonia perfeita entre os espaços interiores e exteriores, assim como entre a luz e a sombra. A mesquita deixou de ser um compartimento escondido e escuro, com suas paredes cobertas por arabescos, para se tornar um santuário do equilíbrio estético e técnico, da elegância refinada e, de uma forma indireta, do transcendental, do divino.

Arquitetura fatímida

Os Fatímidas adotaram o modelo arquitetônico tulúnida, mas também desenvolveram suas próprias técnicas, das quais a Mesquita de Al-Hakim é um exemplo. Sua primeira mesquita congregacional, no Cairo, foi a Mesquita de al-Azhar ("a esplêndida"), que, junto à sua instituição adjacente, a Universidade de al-Azhar, se converteu no centro espiritual do Ismaelismo.
Outros exemplos destacados dessa arquitetura são as elaboradas construções funerárias e as monumentais portas das muralhas da cidade do Cairo, instaladas pelo poderoso emir e vizir fatímida Badr al-Jamali (c. 1073–1094).

Arquitetura mameluca


No reino dos Mamelucos (1250-1517) a arte islâmica recebeu um impressionante florescimento, caracterizando-se pelo zelo religioso, que viria a se tornar um padrão de arquitetura e das artes em geral. Suas técnicas apuradas utilizavam o claro-escuro e outros recursos ópticos para produzir efeitos luminosos em seus edifícios. As abóbadas majestosas, os pátios, e os Minaretes altíssimos (que podem ser vistos nos bairros mais antigos da cidade do Cairo), são uma boa demonstração do explendor dessa arte.

Arquitetura Mughal (Babur)


Um estilo arquitetônico distinto desenvolveu-se na Índia, por volta do Século XVI, com a fusão de elementos persas e hindus. Exemplo desse estilo é a cidade real de Fatehpur Sikri, construída pelo imperador mogol, Akbar, em 1500 aproximadamente.



O Taj Mahal, em Agra, na Índia, construído pelo imperador mogol Shah Jahan, como mausoléu para sua esposa.
Mas o exemplo por excelência da Arquitetura Mughal é, inegavelmente, o célebre Taj Mahal, "uma lágrima na eternidade", terminado em 1648 pelo imperador Shah Jahan, em memória de sua esposa Mumtaz Mahal, que morreu ao dar à luz o seu 14º filho. Ele representa o ponto culminante da arquitetura islâmica na Índia, sendo reconhecido como um dos mais belos edifícios do mundo. É totalmente simétrico, com exceção do sarcófago de Shah Jahan, que é excêntrico devido à sua colocação no quarto da cripta, debaixo do piso principal. O uso abundante de pedras preciosas e semipreciosas, e a vasta quantidade de mármore branco requerida pela obra, quase levou o império à bancarrota.

Arquitetura sino-islâmica

A primeira mesquita na China surgiu no Século VII, durante a Dinastia Tang, em Xi'an. A Grande Mesquita de Xi'an, cujas atuais instalações datam da Dinastia Ming, não imita a maioría das características associadas às mesquitas tradicionais, tendendo a subordinar-se aos clássicos padrões da Arquitetura chinesa. As mesquitas localizadas na China ocidental incorporam elementos tipicamente islâmicos, encontrados no Oriente Médio, como minaretes altos, arcos curvos e terraços em forma de cúpula, mas as mesquitas do leste tendem a se assemelhar a pagodes. Ainda assim, a China é renomada por suas belas mesquitas, semelhantes a templos. 
A característica mais importante da arquitetura sino-islâmica é sua ênfase na simetria, detalhe que lhe confere uma certa grandeza. Ela se aplica tanto a palácios quanto a mesquitas. Todavia, uma exceção notável encontra-se no desenho de jardins, que tendem a ser assimétricos.

Arquitetura afro-islâmica

Grande Mesquita de Djenné, em Mali, exemplo do estilo de arquitetura afro-islâmica
A conquista muçulmana do norte da África motivou um notável desenvolvimento arquitetônico nessa região, do qual a cidade do Cairo é um de seus exemplos. No Sahel, a influência da arquitetura islâmica cresceu inicialmente nas cidades de Djenné e de Timbuctu. A Mesquita de Sanskore, em Timbuctu, era similar em estilo à Grande Mesquita de Djenné.
Em Kumbi Saleh, no bairro onde se concentravam os comerciantes, ergueram-se 12 belas mesquitas (descritas por Abū 'Ubayd 'Abd Allāh al-Bakrī). Madeira e barro eram os materiais mais empregados nas construções.
A famosa cidade de Benin possuia um grande complexo de edifícios de barro, com terraços de ripas. O palácio real tinha uma seqüência de espaços cerimoniais, adornados com placas de cobre amarelo (Bronzes de Benin).

Elementos da Arquitetura

 








 

Interpretações

As interpretações mais comumente aplicadas à Arquitetura Islãmica, podem ser assim resumidas:
· O conceito do poder infinito de Alá, que é evocado por desenhos que repetem os temas, sugerindo o Infinito.
· As formas humanas e animais raramente aparecem na arte decorativa, pois se considera mais importante retratar a obra de Alá.
· A Caligrafía árabe é usada para realçar o interior de um edifício (ou o caminho de acesso a ele, como no Taj Mahal), com citações do Alcorão.
· A Arquitetura Islâmica tem sido chamada de “arquitetura velada”, porque sua beleza artística não raro se esconde nos espaços interiores dos edifícios (como nos pátios), ocultando-se aos olhos do observador externo. Por outro lado, o uso de formas majestosas, tais como grandes abóbadas e minaretes elevados, pretende transmitir energia e alardear o poder e a cultura muçulmanas.


Referências PARTE I

· Ettinghausen, Richard and Grabar, Oleg. (1987) The Art and Architecture of Islam: 650 - 1250, Penguin, USA
· Copplestone, Trewin. (ed). (1963). World architecture - An illustrated history. Hamlyn, London.
Islam.org.br
Icarabe

Historia da Arte I - Arte Islamica - Carlos Rodarte Veloso